Cacau no Cerrado Baiano: Oportunidades e Obstáculos

Cacau no Cerrado Baiano: Oportunidades e Obstáculos

Cacau no Cerrado Baiano: Oportunidades e Obstáculos

Você sabia que o cerrado baiano pode se tornar a nova fronteira do cacau no Brasil?
Neste artigo, você entenderá os principais desafios e expectativas para quem cultiva cacau nesta região promissora.
Descubra por que investir no cerrado pode ser a chave para a nova era do cacau brasileiro.

Contexto Atual da Produção de Cacau no Brasil

O Brasil ocupa atualmente o sexto lugar no ranking global de produção de cacau, com uma média anual de mais de 270 mil toneladas (ICCO, 2024). A produção está concentrada majoritariamente no sul da Bahia e no Pará, mas o cenário está mudando.

Com a intensificação da degradação de solos, mudança climática e pressão por novas áreas produtivas, o cerrado baiano — especialmente no oeste do estado — surge como uma nova fronteira agrícola estratégica para o cultivo do cacau.

Por que o Cacau no Cerrado Baiano?

O cerrado, conhecido como o “berço das águas” do Brasil, oferece vantagens importantes:

  • Solo arenoso com boa drenagem, ideal para a cultura irrigada.
  • Clima com estação seca bem definida, o que permite o controle de doenças fúngicas.
  • Infraestrutura agrícola de ponta, como em Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e Correntina.
  • Área disponível com baixo custo relativo, comparado a zonas tradicionais.

Essa região já se destaca em culturas como soja, algodão e milho, e agora começa a investir no cacau irrigado com alta densidade, uma tendência que une tecnologia, sustentabilidade e rentabilidade.

Desafios da Plantação de Cacau no Cerrado

Embora as condições de solo e clima apresentem vantagens, há barreiras técnicas e econômicas que exigem planejamento e conhecimento.

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1. Adaptação Climática

O cacau tradicional precisa de alta umidade e sombra natural, ausentes no cerrado. Para contornar:

  • Uso de sombrite de 50% a 70% nos primeiros 3 anos.
  • Instalação de irrigação localizada (gotejo), com manejo hídrico inteligente.
  • Consórcios agroflorestais com banana, gliricídia e mogno para sombra natural a médio prazo.

Sem manejo correto, a produtividade cai de 2,5t/ha para menos de 1t/ha.

2. Alto Custo de Implantação

Estima-se que o custo médio para implantar um hectare de cacau irrigado no cerrado varie entre:

Item Custo Estimado por Hectare (R$)
Irrigação por gotejo R$ 7.000,00
Mudas clonadas R$ 4.500,00
Sombrite e estacas R$ 3.000,00
Adubação inicial R$ 2.000,00
Mão de obra inicial R$ 2.500,00
Total estimado R$ 19.000,00

No entanto, o retorno sobre investimento pode começar a partir do 3º ano com uma média de produtividade crescente.

3. Manejo Fitossanitário

Apesar de menor incidência de doenças como a vassoura-de-bruxa, o produtor precisa estar atento a:

  • Ferrugem
  • Míldio
  • Ataques de formigas cortadeiras
  • Deficiência nutricional por desequilíbrio hídrico

Recomenda-se inspeções semanais e aplicação preventiva de defensivos biológicos ou autorizados no cultivo sustentável.

Oportunidades para o Produtor no Cerrado

Imagem arquivo pessoal/Plantação de cacau com grande produção

1. Alta Produtividade com Irrigação

Estudos do projeto Cacau Mais Sustentável mostram que no cerrado irrigado, a produtividade pode alcançar:

  • 2,5 a 3,0 toneladas por hectare em cultivos bem manejados.
  • Qualidade superior com amêndoas mais uniformes, ideais para cacau fino.

Essa produtividade ultrapassa a média do sul da Bahia (entre 800 kg e 1,2 tonelada/ha).

2. Mercado de Cacau Fino e Sustentável

Com a crescente demanda internacional por cacau rastreável e premium, o cerrado oferece:

  • Produção certificável (Rainforest Alliance, UTZ, Orgânico).
  • Tratos culturais controlados e sem contato com metais pesados.
  • Potencial de atender chocolaterias artesanais e mercados gourmet no Brasil e exterior.

3. Apoio Técnico e Científico

Produtores contam com suporte de:

  • Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira)
  • Embrapa Cerrados e Embrapa Tabuleiros Costeiros
  • Projetos como Inovafitossanidade e AgroNordeste
  • Financiamento via Pronaf Mais Alimentos e FNE Verde (Sudene)
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Cacau no Cerrado Baiano ganha força com projetos inovadores

O cerrado da Bahia está se consolidando como uma nova fronteira agrícola para o cultivo de cacau, impulsionado por dois projetos de grande impacto: o Projeto Cacau 1000, voltado para a agricultura familiar sustentável, e o Projeto Moisés Schmidt, considerado atualmente a maior fazenda de cacau do mundo.

Projeto Cacau 1000 – Agricultura Familiar Sustentável (Riachão das Neves – BA)

Liderado pela Coopercacau 1000, em parceria com a Ceplac, Embrapa Cerrados, Cargill e outras instituições, o projeto beneficia cerca de 1.000 famílias em 11 municípios do oeste baiano.

Estrutura do projeto:

  • Cada agricultor cultiva 1 hectare de cacau irrigado, com clones de alta produtividade.
  • Outros 3,8 hectares são destinados à recuperação ambiental, promovendo o equilíbrio ecológico.
  • Os sistemas são agroflorestais e irrigados, com sombreamento natural e fertirrigação.
  • O modelo promove geração de renda com baixa emissão de carbono e preservação ambiental.

Resultados obtidos:

Em 2022, a produtividade média registrada em Riachão das Neves foi de 1.871 kg por hectare, mesmo em sistemas a pleno sol.
A expectativa é elevar esse índice com a maturação das lavouras e sombreamento natural mais consolidado.

Esse modelo mostra que é possível produzir cacau no cerrado de forma rentável, regenerativa e socialmente justa.

Projeto Moisés Schmidt – Alta Produtividade em Larga Escala

Do outro lado do espectro, o empresário Moisés Schmidt conduz um projeto privado de grande escala, também em Riachão das Neves (BA), com investimentos superiores a US$ 300 milhões.

Estrutura produtiva:

  • Atualmente, mais de 400 hectares de cacau irrigado já estão em produção.
  • O projeto adota alta densidade de plantio (1.600 plantas/ha), clones superiores e mecanização agrícola total.
  • A meta é expandir para milhares de hectares, com integração vertical desde o viveiro até a indústria.

Resultados e ambições:

  • A produtividade inicial já chega a 3 toneladas por hectare, com previsão de atingir 4 toneladas/ha nos próximos anos.
  • Parcerias com Barry Callebaut, Cargill e Mars sinalizam o interesse do mercado global no modelo adotado.
  • A iniciativa é considerada a maior plantação de cacau do mundo, simbolizando a potência do cerrado para o futuro do cacau brasileiro.

Esse projeto mostra que, com investimento, tecnologia e gestão, o Brasil pode liderar a nova era do cacau de alta performance.

Comparativo Prático dos Projetos

Projeto Escala Produtividade Atual Modelo Tecnologia
Cacau 1000 1.000 famílias (1 ha cada) 1,87 t/ha Agricultura familiar sustentável Agrofloresta, irrigação, fertirrigação
Moisés Schmidt 400+ ha (fase inicial) 3–4 t/ha Produção em larga escala Alta densidade, mecanização total
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Esses dois exemplos mostram que o cacau no cerrado baiano não é apenas viável — é estratégico, escalável e sustentável, seja em projetos familiares ou grandes empreendimentos.

Dicas Práticas para Novos Produtores

Se você quer iniciar sua plantação de cacau no cerrado, siga este passo a passo:

  1. Faça análise completa do solo e água (pH, matéria orgânica, disponibilidade de nutrientes).
  2. Escolha clones adaptados ao clima seco, como CCN 51, PS 1319 e Cepec 2002.
  3. Implemente irrigação com fertirrigação automatizada.
  4. Utilize sombrite no início e transição para sombreamento natural.
  5. Faça parte de associações e cooperativas locais para reduzir custos e obter apoio técnico.
  6. Busque certificações desde o início da implantação.

Conclusão: Um Futuro Promissor para o Cacau Brasileiro

A plantação de cacau no cerrado baiano representa mais do que uma tendência: é uma oportunidade concreta de expansão sustentável da produção nacional.
Ao unir tecnologia, boas práticas agrícolas e visão de mercado, o produtor do cerrado pode se destacar como referência em cacau de alta qualidade com potencial de exportação.

🌿 Em tempos de busca por produção sustentável e valor agregado, o cerrado pode ser o próximo celeiro do chocolate fino brasileiro.

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