A CBOT (Chicago Board of Trade), hoje parte do CME Group, é o principal palco mundial para futuros e opções de commodities agrícolas. É ali que se negociam contratos padronizados de milho, soja e trigo, referência diária para a formação de preços no mundo. Para quem produz, compra, vende ou analisa grãos, dominar a lógica da CBOT é transformar volatilidade em oportunidade — seja para proteger margens (hedge) ou para precificar com mais precisão.
Neste guia direto, você vai entender o que é a CBOT, como funcionam futuros e opções, quem participa, como os preços nascem, quais são as regras de margem e compensação, os horários de negociação e um exemplo prático de hedge aplicável à realidade do campo.
O que é a CBOT (e por que ela importa)
-
Fundada em 1848, a CBOT padronizou contratos e virou praça de referência global.
-
Suas cotações impactam exportadores, indústrias, tradings e produtores no mundo todo.
-
Com a CME Clearing como contraparte central, o risco de crédito é reduzido e a liquidez aumenta.
Como funcionam os contratos futuros
Definição: acordo padronizado para comprar/vender uma quantidade específica (ex.: 5.000 bushels) de um produto em data futura, por um preço definido hoje.
Para que servem:
-
Hedge: proteger-se de oscilações (produtor, cooperativa, agroindústria).
-
Posicionamento: buscar ganhos táticos com movimentos de preço (fundos, traders).
Exemplos de especificações (princípios):
-
Milho (ZC): 5.000 bushels por contrato; cotação em ¢/bushel; tick mínimo que define o valor por ponto.
-
Soja (ZS): 5.000 bushels; cotação em ¢/bushel; meses de vencimento alinhados à safra.
Dica: conhecer tamanho do contrato, tick e meses de vencimento evita erros de cálculo de P&L e de rolagem.
Opções sobre futuros (calls e puts)
-
Call: direito de comprar o futuro a um preço (strike) até a data limite.
-
Put: direito de vender o futuro a um strike.
Por que usar: proteção com perda limitada ao prêmio e assimetria de resultados (ex.: piso de preço para o produtor, mantendo upside).
Como nasce o preço na CBOT
O preço é a síntese das expectativas:
-
Oferta/demanda globais, clima em EUA/Brasil/Argentina, estoques, ritmo de exportações, câmbio, política agrícola.
-
Eventos climáticos e logísticos (frete, barcaças, portos) mudam prêmios e bases, influenciando o preço final no campo.
Quem participa do jogo
-
Hedgers: produtor, cooperativa, agroindústria, tradings (reduzem risco de preço).
-
Especuladores: fundos e traders (aportam liquidez e eficiência).
-
Arbitradores: exploram diferenças entre mercados/prazos (CBOT × físico × outros hubs).
Margens e compensação (CME Clearing)
-
A CME Clearing vira o “comprador de todo vendedor” e o “vendedor de todo comprador”, mitigando risco de contraparte.
-
Para operar, o participante deposita margem de desempenho (performance bond), ajustada conforme a volatilidade do ativo.
-
Ajuste diário (mark-to-market): ganhos/perdas são liquidados diariamente na sua conta.
Horários de negociação (CME Globex)
-
Sessões estendidas via plataforma eletrônica, com janelas principais de negociação durante o dia útil nos EUA.
-
Atenção a feriados e mudanças sazonais (horário de verão), que alteram o “timing” de book e liquidez.
Exemplo prático de hedge do produtor de soja
Cenário: colheita em 60 dias; risco de queda no preço.
-
O produtor vende contratos de soja (ZS) na CBOT hoje, travando um nível de preço financeiro.
-
Se na colheita o preço cai, ele recebe menos no físico, mas ganha no futuro (venda inicial > recompra).
-
Se o preço sobe, ganha no físico, mas perde no futuro; a ideia é estabilizar a receita (e não “ganhar nas duas pontas”).
Pulo do gato: alinhar o tamanho do hedge (nº de contratos) com a produção esperada e com a base da praça local.
Erros comuns (e como evitar)
-
Super/under-hedge: travar volume acima/abaixo da produção provável.
-
Ignorar base: preço local = CBOT ± prêmios; não olhar a base distorce o resultado.
-
Esquecer custos: corretagem, clearing, financiamento de margem e rolagens entram na conta.
-
Vencimento errado: rolar tarde demais pode encarecer a operação.
-
Não simular cenários: teste de sensibilidade com +/- variações de preço antes de executar.
Dicas práticas para quem é do agro
-
Tenha política de hedge (metas, limites, alçadas, compliance).
-
Calcule “tick value” e valor por ponto antes de operar.
-
Use opções para criar pisos de preço com upside parcial.
-
Monitore clima e USDA (relatórios), câmbio e bases regionais.
-
Integre físico + derivativos num orçamento de safra com cenários.
Glossário rápido
-
Tick: menor variação mínima de preço.
-
Mark-to-market: ajuste diário de ganhos/perdas.
-
Base: diferença entre o preço local e a cotação referência (CBOT).
-
Rolagem: substituição do vencimento próximo por outro mais à frente.
-
Performance bond: margem exigida para manter posições.
Conclusão
A CBOT é o coração da precificação agrícola global. Entender futuros, opções, margens, horários e base torna o produtor mais competitivo, favorece decisões de comercialização e melhora o planejamento financeiro da safra. Se você lida com grãos, dominar a CBOT é deixar de “torcer” pelo mercado e passar a gerenciar risco com método.
Perguntas frequentes (FAQ)
1) A CBOT define o preço no meu armazém?
Não diretamente. Ela fornece a referência internacional; o seu preço local = CBOT ± base (prêmio/desconto) + logística e qualidade.
2) Opções são melhores que futuros para hedge?
Depende da estratégia e do perfil. Opções limitam a perda ao prêmio e preservam assimetria; futuros travam o preço com maior linearidade.
3) Preciso operar muito para me proteger?
Não. Um hedge simples e bem dimensionado (parte da produção) já reduz significativamente o risco de preço.
4) Como saber quantos contratos usar?
Converta sua produção esperada para bushels e divida pelo tamanho do contrato (ex.: 5.000 bushels). Ajuste pela base e pela correlação com seu preço local.
5) E se a margem apertar?
Planeje liquidez para variações de margem. Alternativas: reduzir tamanho, usar spreads ou opções para suavizar drawdowns.










